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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sobre a Marcha LGBT nos Açores, porque é que eu vou.


Logo que se anunciou a existência de uma associação LGBT nos Açores e a organização de uma Marcha LGBT em São Miguel, se sentiram os ecos da Rosa Luxemburgo, quando dizia: Quem não se movimenta, não sente as amarras que o(a) prendem. A homofobia saiu logo para a rua, de forma explícita e encapotada. Desde o PP que fez disso assunto na Assembleia Regional, aos insultos no Diário Insular, ou aos mais recentes artigos de opinião. A isto se juntaram as centenas de mensagens homofóbicas enviadas à Pride Azores (entre outras centenas de apoio e solidariedade). Sinais de que esta é uma Região com ainda muito para lutar nesta área, como noutras.

Os argumentos são muitos: de que vai ser um carnaval, meia dúzia de gatos pingados estranhos, que não é importante, que não há discriminação, etc. Como é que se avança sequer com este tipo de argumentação é um mistério. Na verdade, toda a agente conhece alguém gay, lésbica ou bi, toda a gente conhece alguma história em que sabe que dessa vida faz parte ser insultado, ser invisível ou estar isolado (e quem não conhece é porque está fechado ao mundo). Toda a gente já viu insultar, directamente ou disfarçado em anedota, na rua ou na mesa dos cafés. Toda a gente sabe do medo de se ser quem é nestas situações, e sabe que ter medo é do mais paralisante que há. Toda a gente sabe da violência, ou de histórias como a que aconteceu ontem em Ponta Delgada, em que alguém disse ao cliente para sair do quarto que tinha acabado de alugar, porque era “um desses maricas que estão por aí”.

Toda a gente sabe também como amar é importante. Toda a gente sabe que a gente não escolhe por quem se apaixona (o que se pode escolher de facto é a forma como construímos a prática desse amor, mas isso é outra história…). Toda a gente que o amor desafia-nos os limites e permite-nos ultrapassá-los. Toda a gente sabe o que é querer fazer com alguém o que a primavera faz com as cerejeiras, como diz o Neruda.

Ou seja, estranho não é a diversidade e o quão fundamental é poder amar livremente. Estranho é negar o óbvio. Estranho é não compreender que é apenas de direitos humanos que se trata. Estranho é aceitar como “natural” a violência. Estranho é silenciarmo-nos perante a injustiça e assim pôr-se do lado de quem oprime. Estranho é não compreender o difícil que deve ser amar alguém que a sociedade nos proíbe amar. Estranho é estranhar a diferença e não ficar feliz perante a diversidade humana. Estranho é alguém ter de andar na rua escondido, a trancar o corpo, só porque mexe mais as ancas ou os braços. Estranho é não poder dar beijos a quem se gosta e já agora um abraço, que estas coisas até são de graça e nem aumentam a dívida externa.

Por isso e por tantas outras coisas que agora não me ocorrem, quando o Terry Costa da Pride Azores me perguntou se queria ser madrinha, aceitei de imediato. Como é que eu posso trabalhar a igualdade, acreditar que ela é fundamental, e depois fugir na hora em que é preciso lutar por ela? Não posso. Nem quero.

Venham gente bonita, tragam um/a amigo/a também, que o silêncio é o combustível do medo.  Venham que a marcha é aberta a toda a gente, não discrimina ;) Venham que é bonito ver a liberdade acontecendo e passarmos a saber não apenas por esperança, mas por memória, que existem outros modelos de viver.

 Judite Fernandes

If i can’t dance, this is not my revolution.
Emma Goldman


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